terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CAMARADA ONALÍCIO ARAÚJO BARROS (Fusquinha)

Neste teu aniversário 17 de dezembro.

Escrevo-te, esta carta depois de comigo mesmo relutar. É um tempo controverso, uma política delinqüente se apoderou do que é belo e faz seu rito e não chega ser inspirador ainda que estejamos atravessando, o sentimento é de improviso em tudo, nada ganha ou tem contorno de mudanças e assim falece o espírito e o que não diz nada, embora pese como um algo imensurável, não importa nesse momento?!

Caro Onalicio, nesse tempo de dúvidas o que pode mesmo nos indicar? Custa-me a essa altura admitir isso ou aquilo, mais não quero fazer generalizações, cada uma mesmo que bem descritas não podem revelar a emoção que agora sinto, sem caducar nenhuma hipótese mais apenas revelar, como estamos atravessando o grande mar da hipocrisia que é servida diariamente, e que querem nos engolir, para nos fazer servis e obedientes.

Sempre isso foi posto e há mesmo uma verdade poderosa nessa afirmação, em qualquer encruzilhada, quando tudo for dúvida, onde as objetivações forem maiores que o nosso poder de reflexão, onde a impaciência quer ser uma resposta indissolúvel, onde o pragmatismo oportunista seja expressão da cegueira individual e coletivizada, onde mesmo os erros táticos não se sobressaem ao nível de uma autocrítica, devem, pois os mais lúcidos e corajosos atuando de maneira disciplinada, sem nenhum ranso e sem niilismo, apoderar-se em dever comum, o que pensam os nossos mártires, aqueles cuja expressão maior só pode indicar uma certeza, a luta cujo caráter é cada vez mais dramático.

Nesse continente de dúvidas ficamos do outro lado, já possuímos a nossa maneira uma certa margem, depois de muito velejar assentamos a nossa humanidade em solo firme mais ainda não estamos livres, imunes aos cálculos da burguesia. Um deserto quer se ampliar sobre nossas noites já sonhadas em mudanças, já pelejadas diariamente ombro a ombro, cujo limite dá - nos indicativo do que precisamos mudar o que há ainda por fazer.

Não és para nós o herói da cegueira, o mito da terra desgraçada, empurrado para os confins da história enfadado de méritos vazios. Não é assim que o concebemos em paciência e conspiração. Segue sendo o nosso homem, cuja redenção não é a morte, mas a vida. Sua dimensão só pode ser medida pela pratica que exercitastes, pela compreensão dos limites e das possibilidades da superação. Onde o imperativo, não pode ser a derrota, mas o prolongamento do que é justo, sem demasias e fissuras, o apoderamento da classe, dos trabalhadores onde o possível nunca será um risco abstrato.

Neste teu aniversario, estamos contigo, te reivindicando companheiro, pedindo tua continência, atravessando a rigor esse tempo de incompreensão, de consignas aleijadas, de manuais expondo “a nova política”, do consentimento de classe, da negação dos inimigos. Estais conosco, nossa única verdade. Estais com os teus, estais com a juventude, com os homens e mulheres que organizamos dia a dia, és indicação, prossegue em nossa mística na nossa moral militante em nossas festas, no antolho da tristeza e nas alegrias. Expõem nosso projeto, alerta e estimula o que deve ser um quadro político, um militante abnegado, um dirigente como diz István Mészáros, consciente dos desafios e do peso do fardo histórico. Estamos crescidos em desobediência, não cedemos um só palmo, continuam indestrutíveis, no panteão dos que organizamos as lições históricas, as conquistas, os princípios e objetivos da nossa luta.

Por fim, seguimos de prontidão, refutando a cooptação, o modismo, a política vazia, a tristeza de compartilhar esse tempo imaturo, a lógica abismal que assola e engana o que deveria ser o sentido das mudanças.

Estamos vigilantes, afeitos e sendo o que podemos ser onde as aspirações mais belas e apaixonantes estão sabotadas pelos profissionais do poder. Seguimos, desfazendo-nos dos medos, afirmando idéias e praticas que só a classe trabalhadora pertence, animados porque a luta é nossa certeza e saudando de mãos dadas o que significa para nós teu riso, essa camaradagem ativa, força invicta que a nós assemelha viver o presente, sempre construindo um novo lugar para a humanidade da qual descenderá o socialismo, opção primeira da tua prática militante.

Abraços sempre verdadeiros.

Charles Trocate

Marabá, dezembro de 2.010

Aos teus 45 anos.

Nenhum comentário: