terça-feira, 2 de agosto de 2011

Artigo

*O Pará não pode se dividir

Separatistas de olho na gastança e assanhados diante dos  largos horizontes que poderão se abrir para seus interesses políticos não param de produzir contradições que dão o que falar.
De olho na gastança, separatistas tentam engatar um discurso para mostrar que retalhar o estado do Pará vai produzir o melhor dos mundos.
Mas não conseguem expor argumentos lógicos que embasem essa ficção. Separatistas que estão com os olhos postos nos cargos - milhares de cargos - que uma eventual divisão do Pará poderá proporcionar não estão lá muito preocupados com racionalidades, com parcimônias nos gastos. Eles, os retalhadores,querem mais é adubar suas hortas eleitorais para estender os tentáculos de seus poderes e suas influências a rincões os mais longínquos. Entre argumentos e fatos, os separatistas não perdem a oportunidade de oferecer demonstrações - evidentes, eloquentes - de que a coerência é mero detalhe, para não dizer detalhe nenhum, quando se trata de induzir enormes contingentes populacionais a embarcar em ilusões de que a criação de dois novos Estados significará a redenção completa, absoluta de todas as carências.
Agora mesmo, temos um exemplo prático da distância que leva do discurso à prática. Segmentos empenhados em dividir o Estado do Pará importaram, para fazer sua campanha, marqueteiro que começa a esmerilar o discurso para tentar convencer todo mundo de que dividir é melhor do que somar, é melhor do que multiplicar.
O mote da campanha vai na contramão do já se ouviu em outros Estados que também estiveram ameaçados pela divisão.
A Bahia, por exemplo, é um desses Estados. Lá, veiculou-se notável campanha. Foi criada e dirigida pelo mesmo marqueteiro que estará à frente da campanha pelo retalhamento do Pará.
Na Bahia, a cantora Maria Bethânia, com a voz serena e maviosa e com a face plácida de quem externa, com convicção, verdades incontornáveis, diz claramente que dividir a Bahia “é como separar a corda do pau, calar para sempre o berimbau”. Dividir a Bahia, continua a cantora, “é como separar Castro de Alves, Rui de Barbosa, Dorival de Caymmi, Caetano de Veloso, Gilberto de Gil, Glauber de Rocha, Jorge de Amado, Maria de Bethânia e Gal da voz.”
A mensagem é comovente. Tão comovente que sensibilizou os baianos e os convenceu de que dividir a Bahia não era uma boa saída. Da mesma forma - exatamente a mesma - acontece no Pará.

Dividir o Pará é como dividir o tacacá, é como separar a goma do tucupi, o tucupi do camarão.
Dividir o Pará é como dividir o pato no tucupi, é como separar o pato do tucupi, o tucupi do jambu.
Dividir o Pará é como separar o açaí da farinha de tapioca.
Dividir o Pará é como separar o Círio de sua corda, é como separar a Senhora da Berlinda da multidão que a acompanha com fé e devoção.
Dividir o Pará é como separar Ruy de Barata, Waldemar de Henrique, Benedito de Monteiro, Wilson (Isoca) de Fonseca, Benedito de Nunes, Sebastião de Tapajós, Nilson de Chaves.
Dividir o Pará é como separar o “Belém” que vem depois do nome artístico da Fafá, que virou Fafá de Belém por amor não apenas a Belém, mas ao Pará.
Dividir o Pará é como dissociar Mestre Verequete do carimbó, é como desvincular a marujada de Bragança.
Dividir o Pará é como erguer um muro entre os rios Tapajós e o Amazonas, que têm colorações diferentes, têm densidades diferentes, seguem caminhos e rumos diferentes, mas só se
contrastam e revelam suas belezas porque estão interligados, ainda que não se misturem.
Dividir o Pará é como separar o Tocantins do Itacaiúnas, que se entrelaçam na frente de Marabá para banhar - e beijar - a cidade.
A Bahia não foi retalhada, porque somar e multiplicar é muito melhor do dividir.
O Pará não pode se dividir, porque somar e multiplicar e muito melhor do que separar.

* Artigo enviado via e-mail por aclneves@yahoo.com.br e publicado Editorial do jornal O liberal do dia 29/06/2011

Um comentário:

Marcel Nogueira disse...

Dividir o Pará não é bom, porque as regiões Sul, Sudeste e Tapajós precisam continuar bancando o fausto da corte; porque as regiões Sul, Sudeste e Tapajós precisam desesperadamente continuar estagnadas, sem estradas, sem saúde, sem segurança; dividir o Pará é um retrocesso, porque fora os espertalhões de Belém, ninguém pode sonhar com desenvolvimento. Todos devem ir para o buraco, aliás, os buracos, da PA 275,