segunda-feira, 3 de maio de 2010

No Blog do Zé Dudu

Réplica

 Caro Zé,
Começarei pelo óbvio: não tenho nenhum motivo pessoal para exigir um posicionamento do PT em relação ao tal “caso das telhas”. Em toda a minha militância política, sempre agi por motivações políticas.
Agora, por exemplo, tenho insistido porque entendo que um ato deste tipo atinge a imagem do Partido; ainda mais em ano eleitoral e quando temos problemas políticos (construção de alianças estaduais, especialmente com o PMDB), administrativos (principalmente, em nossa administração municipal, nesse momento semi-paralisada) e morais (quem acreditaria ou acreditará, fora nós mesmos, petistas, que as telhas foram levadas para a casa de familiares do secretário por engano? Por que, se era um engano, não se enganaram de endereço e levaram para a casa de uma família mais necessitada?) Façamos uma pesquisa junto a população de Parauapebas, seria uma boa!
O segundo ponto que quero levantar é o mesmo que o senhor secretário tornou último, aproveito para reclamar-lhe apoio: é isto mesmo, vamos exigir da OAB, do MP, do Poder Judiciário, das igrejas, dos movimentos sociais, de nós todos, uma imensa campanha, não apenas para apurar o “caso das telhas” (3, 30, 300, 3000 – qual é a diferença? A quantidade altera o ato de improbidade e peculato? Lembro que ambos não admitem modalidade culposa, basta ver a Lei); mas fazer uma campanha também para investigar crimes como chantagem, peculato, enriquecimento ilícito e outros crimes hediondos que nem vale citar. (Estas últimas palavras são literalmente do próprio secretário. E me deixaram apavorado: o que será que secretário quis dizer com crimes hediondos que nem vale citar? Como não vale a pena denunciar crimes hediondos?)
(Aliás, sinto-me na obrigação de lembrar-lhe, senhor secretário, que “saber de crime – ainda mais, hediondo, e as palavras são suas, e não denunciá-lo às autoridades competentes é crime; ou não é, Dr. Ademir? Digam-me, nossos membros integrantes do Poder Judiciário, MP, advogados em geral, se alguém sabe de crimes como chantagem, peculato, enriquecimento ilícito e outros crimes hediondos (sic) tem ou não a obrigação legal de denunciá-los? Meus professores do curso de Direito/UFPA estão me ensinando errado? Reclamo agora uma resposta oficial da OAB, pois, também preciso estudar, inclusive para fazer a própria prova da OAB: que resposta daria, se por acaso uma questão assim estiver na minha prova? Senhores, agora estamos falando de crimes hediondos? Eu, quando instei o PT a um posicionamento estava falando apenas do “desvio de telhas”. Este eu sei que foi cometido, embora não saiba afirmar por quem!)
Não vou discutir senhor secretário, seus conceitos de honra e respeito. Quem sou eu para duvidar de seus valores? Vou me ater a outros que encontrei em seu direito de resposta. No caso, principalmente três: banalidade,austeridade e pseudo-petista. Comecemos pelo primeiro: o que exatamente o senhor quis dizer com assunto tão banal? Banal no caso foi “desviar as telhas”? A quantidade de telhas? As próprias telhas? Ou cobrar do Partido dos Trabalhadores um posicionamento? Podemos pedir a formulação de um novo conceito para banalidade; e estabelecermos que até 300 telhas é banal, daí pra frente é improbidade. Penso que pode ser uma boa pauta para discutirmos no próximo encontro do Partido, não é mesmo?
Vamos ao segundo: austeridade. O que é austeridade? Presentear parentes com telhas velhas? Muito bom: eram entulhos e estavam sujando e atrapalhando a administração municipal; talvez, enfeando-a? Não? Pode ser demitir um “companheiro” por ser um pseudo-petista a bem do serviço público, pois, ele se opunha à retirada das telhas do Almoxarifado Municipal? Ou talvez não, ele queria que as telhas velhas fossem levadas para a casa de algum parente dele e, neste caso, evidente quebra de hierarquia, pois que, sendo subordinado ao secretário, deveria primar pelos parentes do secretário, não pelos seus? Penso que isto também requererá de nós, petistas, pseudos ou não, uma grande reflexão; espero, entretanto, que nos apressemos e não façamos mais um daqueles intermináveis debates – podemos simplesmente ir ao dicionário, supondo que este nos seja suficiente.
Por fim, o derradeiro: pseudo-petista. Como posso fazer para diferenciar um petista verdadeiro de um pseudo-petista? Proposta número 01: pela quantidade de telhas que ele decidir mandar para casa de parentes. Parece-me uma boa pedida, não obstante, tenhamos um problema numerológico: o número ideal seria 3, 30, 300, 3000, 3000000? Pode ser tijolos, independentemente do número? Ou tem que ser telhas, ainda mais se for velhas? Isto certamente gerará longos debates. Já imagino quantas tendências internas novas surgirão em torno desta questão. Quantas serão as teses a serem registradas nos diretórios? Pelos menos poderemos responder aos nossos adversários demos-peessedebistas quando nos chamam de petralhas : exigiremos que nos denominem petelhas!
Proposta número 02: serão considerados verdadeiros petistas somente aqueles que, dizendo-se sabedores de crimes hediondos, entenderem que também isto é um assunto banal e não vale à pena citar? Ou os que defenderem uma mudança na Lei de Crimes Hediondos? Não? Então, já sei, verdadeiros petistas serão os justos, os de bom e limpo coração, mas que, mesmo sabendo de crimes como chantagem, peculato, enriquecimento ilícito e outros crimes hediondos entenderem que não vale a pena denunciá-los e que a sociedade ficará melhor assim, pois, estes terãoprincipio ético e moral, embora digam que não vão denunciar crimes de que se dizem sabedores? Entendo agora porque desviar telhas é um assunto banal. E concordo! Temo, uma vez mais, que precisaremos de uma nova teoria socialista!
Por fim, proposta número 03: serão considerados verdadeiros petistas os empresários bem sucedidos econômica e politicamente, que não acobertem erros de supostos companheiros (mas: por que só dos supostos? Os outros podem?) que achem que, pelo fato de ser do PT, têm direito de cometer desmandos? Devemos incluir desvio de telhas entre dos tais desmandos? Não seria melhor considerarmos verdadeiros petistas apenas os empresários, mesmo que não sejam bem-sucedidos? Melhor não! Consideraremos verdadeiros petistas apenas aqueles que correm risco de vida por ter mexido numa estrutura podre e, vendo que ela estava pra cair, decidirem levar ao menos as telhas, pois, que, estando no teto, podem representar risco de vida para os demais cidadãos mesmos que sejam pseudo petistas ou nem mesmo sejam petistas?
O que me preocupa, num momento tão rico em debates como este, é que nossos aventureiros arvorados de intelectuais, de revolucionários, gritadores de palavras de ordem não tenham a capacidade teórica e nem ocoração limpo para formularem nossa nova teoria de transformação social: e, aí, se apague de vez nossa tão minguada centelha revolucionária.
Saudações (pseudo ou verdadeiramente – quando eu descobrir, aviso) Petistas!
Leo Mendes Filho 

4 comentários:

Anônimo disse...

Os crimes referidos pelo secretário não são hediondos, basta ver a lei 8.072/90. A improbidade independe do quantum do dano, do aproveitamento ou da inobservância dos princípios da administração pública.

O peculato admite a modalidade culposa.

Todos estamos envergonhados!

Anônimo disse...

Léo e Wanterlor,

Vocês podem mais, muito mais. Parem de chutar "cachorro morto"!

Esse debate cansa o Partido e isola os combatentes.

O caso é de polícia e de Ministério Público, ponto final.
Insistir na tecla a partir daí, por mais que os debatedores neguem ou argumentem o contrário, sobressai uma conotação pessoal, mesmo que o sentimento que motiva um e outro lado seja ético-político-sério, o que transparece é a pessoalidade do debate. Mesmo que não seja, a aparência aqui, neste caso, domina a cena.

Essa armadilha que lançam para vcs, Léo e Wanterlor, lhes tira energia e simpatia para o debate que a sociedade e o PT deseja.

Vcs se apequenam igual a quem desvia telhas!

Saiam dessa!

Abs. João Carlos.

Unknown disse...

Verdades meu caro.
Esse assunto já saiu da pauta do Blog.
Volte sempre
Um grande abraço

Anônimo disse...

Caro João...

não é pessoal, lhe dou minha palavra. Mas, não consigo aceitar a "banalidade" do caso porque entendo que estes comportamentos podem generalizarem-se. Mas, não me limito a este problema: o grupo a que pertenço (Articulação de Esquerda - AE), em aliança com outros, estamos também construindo uma série de propostas que serão apresentadas ao partido, à sociedade, aos aliados e ao governo abrangendo várias áreas: saúde, educação, cultura, políticas para juventude, idosos, transito, urbanismo, entre outras.
Sabemos que o momento nos exige urgência, mas, tememos que a pressa possa nos levar, mais uma vez a equivocos, por isso estamos tomando cuidado. Posso lhe assegurar que apresentaremos propostas, inclusive, do ponto de vista ético e moral para nossa cidade e para nosso povo. Para nós, esta é a missa do partido e de seus aliados.

Agradeço tua consideração,

Leonidas Mendes Filho