Em reportagem da revista Globo Rural do mês de abril, a jornalista Clarice Couto conta história de centenas de pessoas que viviam da exploração ilegal das folhas de jaborandi, na Floresta Nacional dos Carajás, sudeste do estado do Pará. A planta possui propriedades químicas que integram a lista de matérias-primas da pilocarpina, alcaloide usado na composição do colírio para glaucoma e muito procurado pela indústria farmacêutica.
De vilões a guardiões
Por décadas, colhedores de folhas de jaborandi viveram ilegalmente, fugindo de fiscais e ganhando muito pouco. Com capacitação, organização e cooperativa e adoção de práticas sustentáveis, eles podem hoje atender à demanda da indústria farmacêutica e garantir paga justa
Texto Clarice Couto | Fotos João Marcos Rosa
O folheiro João Cunha, com carrego de 40 quilos de folhas secas nas costas, na região de Carajás, PA
São 5h30 na Floresta Nacional de Carajás, sudeste do Pará. Feixes de sol despontam avermelhados, revelando árvores secas e afloramentos de pedra que compõem paisagem mais semelhante à Caatinga do que à concebida para a Amazônia pelo imaginário coletivo. A topografia é ondulada, a terra é rala sobre o chão pedregoso e, ao longe, quatro homens se apressam para guardar a marmita do dia e colocar o pé em mais uma jornada de trabalho.
"Eh, obra da natureza", grita de rompante o matuto Manoel Gonçalves, 77 anos. É dessa região, tão distinta da portentosa floresta que a circunda, que "folheiros" como ele coletam há décadas as miúdas folhas do jaborandi, árvore presente na canga, ou savana metalófila - formação vegetal estabelecida sobre solo rico em minério de ferro e presente em vários pontos da Flona Carajás -, e em áreas mais abertas de floresta. Da venda dessa matéria-prima para atravessadores, que negociavam com a indústria farmacêutica, ávida pelos sais de pilocarpina (componente extraído do vegetal e empregado em medicamentos para glaucoma), os mateiros obtiveram por muito tempo uma parcela importante de sua renda minguada. Pagavam, para isso, o preço da ilegalidade - a atividade na área era irregular até 1997 - e das remunerações injustas.
A partir daquele ano, um "processo de paz" entre as partes envolvidas deu seus primeiros passos. Na época, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a então estatal Companhia Vale do Rio Doce (hoje mineradora Vale) e folheiros consentiram em realizar adaptações ambientais, administrativas e econômicas para preservar aquela atividade tradicional, porém de maneira sustentável. Doze anos depois, em 2009, a iniciativa alcançou seus melhores resultados: a já organizada cooperativa dos colhedores de folhas de jaborandi conquistou, pela primeira vez, entre outras vitórias, pagamento justo para os cooperados. Veja a reportagem completa aqui e as fotos de João Marcos Rosa aqui.
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