No Blog da Adriana Araujo
Quatro meses atrás escrevi sobre o dia em que vi as lágrimas de um presidente. Era Lula chorando ao relembrar momentos marcantes dos oito anos de governo.
Ontem o Brasil inteiro testemunhou as quase lágrimas de Dilma Rousseff.
E ela quase chorou por Lula, agradeceu pela honra do apoio, pelo privilégio da convivência.
Definiu o presidente como um líder apaixonado pelo seu país e sua gente. E disse que baterá sempre à porta dele.
O choro ficou preso na garganta. Dilma parou o discurso, tomou água duas vezes para conseguir concluir o agradecimento a Lula.
A plateia aplaudia, gritava "Lula! Lula!" e parecia aguardar a apoteose de ver a mulher com fama de durona chorar em público. Ela não chorou, mas emocionou muita gente que estava ali, naquela sala superlotada.
E Dilma ontem certamente teve razão pra chorar. Não somente por Lula, mas por ela mesma.
O feito é inédito. Pela primeira vez temos uma presidenta. E com uma trajetória surpreendente. Na campanha muitos tentaram reduzi-la a quase nada.
Lembro-me agora da coluna de um jornalista que criticava Dilma por ela sempre ter ocupado cargos públicos por indicação política. Por nunca ter disputado nenhuma eleição, como se fosse uma aproveitadora das benesses do governo.
Uma mulher não escreveria isso. Um homem que conheça e respeite a trajetória de todas nós, mulheres, também não. Dilma vem de um tempo em que as mulheres deveriam ser boas donas de casa. No máximo, professoras.
Foi muito além disto. Sim, ela fez carreira na vida pública, indicada para cargos no sul do país acompanhando o marido Carlos Araújo. Mas, naquela época, mulheres nas urnas eram uma raridade. Vencedoras, então, quase inexistentes.
As mulheres ainda são minoria na política nacional. E as mulheres não consagraram Dilma. Ela recebeu mais votos dos homens.
Será por que ensinaram às mulheres que eles são mais "eficientes" do que nós? Ainda desconfiamos de nossa própria capacidade?
Dilma, a mulher que trocou o conforto e o aconchego da família de classe média alta para lutar para que todos nós pudéssemos votar, ontem viu 55 milhões de brasileiros votarem nela.
Começou falando das mulheres. E pediu às mães de meninas pra que olhassem para suas filhas nos olhos e dissessem a elas: "sim, nós podemos"! Farei isto quando retornar a São Paulo e reencontrar minha filha.
Dilma não será uma boa presidente apenas por ser mulher. É claro que não! Ela sabe disto. Dilma sabe também que cometeu um erro ao escolher Erenice Guerra como braço-direito. Não poderá errar mais.
E disse: "não haverá compromisso com o erro, o desvio e o mal feito".
Que ela cumpra o que prometeu. Que ela honre todos nós, mulheres e homens. E que ela chore quando quiser. Ontem, podia ter chorado pela grande guinada que deu.
Se posso arriscar um palpite, Dilma não chorou justamente por ser mulher.
Deve ter imaginado que chorar, logo no primeiro discurso depois de eleita, poderia ser um sinal de fraqueza.
Frágil ela já mostrou que não é.
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