segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os interesses da Vale no sudeste paraense

Elevada taxa de violência contra camponeses, desmatamento, trabalho escravo e infantil, prostituição, concentração de terra e renda estão entre os elementos que resultaram do processo internalização do capital no sul e sudeste do Pará.
Tais passivos quase sempre são ocultos da pauta dos grandes meios de comunicação e nos discursos políticos.
Leia a análise aprofundada do contexto do sudeste paraense.
Por Rogério Almeida, do blog Furo.

No século passado o regime de exceção (1964-1985) é considerado um marco histórico da integração da Amazônia ao resto do país. O estado foi consagrado como o principal indutor da economia que tem ainda hoje como matriz o extrativismo. E tem sido o extrativismo mineral que inseriu o Pará entre os estados que mais contribui para a formação do superávit primário do país.

O ciclo da mineração na Amazônia iniciado na década de 1950 na Serra do Navio, no Amapá, e que se aprofundou com a descoberta do ferro e outros minérios na região de Carajás, agora ganha outras nuances com a exploração mineral em outros municípios do Pará. Canaã dos Carajás, Paragominas, São Félix do Xingu, Ourilândia do Norte, Xinguara e Juruti são alguns deles.

O aprofundamento do extrativismo mineral dialoga com outros projetos, como a produção de energia e transporte. Eles configuram eixos de desenvolvimento que norteiam a ação do planejamento do governo federal. O modelo coloca no primeiro plano a disputa pelo território e as riquezas naturais existentes.

Estão em oposição grandes corporações do capital nacional e internacional que gozam do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as populações locais consideradas tradicionais, como camponeses, extrativistas, pescadores, quilombolas e indígenas. Vale, Alcoa, MMX estão entre as empresas mineradoras. Entre as construtoras de hidrelétricas tem-se, entre outras: Camargo Correa, Alcoa e Tractebel Suez. Sem falar da própria Vale e Alcoa.

Carajás - tensões na disputa pelo território - 21 municípios do Pará estão entre os cem que mais desmatam na Amazônia. Dessas duas dezenas de cidades, 19 estão no sudeste do Pará, que além da mina de Carajás abriga o pólo siderúrgico. Boa parte desses municípios que ocupa linha de frente em desmatamento também lidera o ranking de violência. Somente no primeiro semestre de 2010 cerca de 300 pessoas foram assassinadas de forma violenta no sul e sudeste do Pará.

Os estudos foram realizados através do Projeto Prodes – Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite/2007. Uma outra questão, esta de ordem trabalhista, reside em índices recordes de ações contra a Vale no município de Parauapebas. A região também lidera o ranking de trabalho escravo em fazendas e carvoarias.

É a mineradora, por conta do poder econômico, controle de tecnologia de ponta, além das relações políticas em diferentes níveis de poder, que tem estruturado e reestruturado o território na região de Carajás. É ela que pressiona áreas de projetos de assentamento da reforma agrária e áreas indígenas, e tem induzido a remodelação das cidades, há exemplo do que ocorre em Marabá.

O município considerado pólo da região passa por alterações em sua geografia. Registra inúmeras ocupações, loteamentos, ampliação de vias consideradas estratégicas, como a duplicação da ponte sobre o rio Tocantins, duplicação de parte da Transamazônica que corta a cidade, ampliação do pólo industrial com a construção da indústria Aços Laminados do Pará (ALPA). A empresa que será movida a carvão mineral deverá produzir 2,5Mt/ano de aço plano, na forma de placas e bobinas. O município registra ainda o fenômeno da proliferação da construção de inúmeras vilas de kitnet para atender a demanda de operários e migrantes.

A mineração da Vale encontra-se em expansão. Tal ampliação tem implicado incremento da infra-estrutura de transporte multimodal para escoar a produção. A ferrovia de Carajás terá a duplicação de 600 km do total de 800. Tem-se ainda a efetivação da hidrovia do Araguaia-Tocantins, a construção de um porto em Marabá e ampliação do Porto do Itaqui em São Luís, Maranhão. E a construção de inúmeras Hidrelétricas na bacia do Araguaia-Tocantins, a exemplo da hidrelétrica de Estreito, na fronteira do Maranhão com o Tocantins, onde as mineradoras Vale e Alcoa são associadas da Camargo Corrêa e da Tractebel Suez. leia mais

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