sexta-feira, 18 de junho de 2010

A íntegra da carta de Charles

Charles Ao presidente do Partido dos Trabalhadores/PA
Belém, 17 de junho de 2010
Caro companheiro João Batista,
Não foi fácil o caminho que percorri para chegar à conclusão que me cumpre comunicar-lhe, depois de tantos anos na condição de filiado ao Partido dos Trabalhadores (nem sei quantos exatamente, pois a minha primeira filiação ao PT foi extraviada).
Mas posso afirmar que, no PT, não passei apenas a maior parte dos meus quase quarenta e cinco anos, mas o melhor da minha ainda breve existência.
Aprendi, no PT, quase todo o pouco que sei sobre a vida e sobre o mundo.
Mas nada devo ao PT e nem me sinto credor deste.
Fui leal à sua história, aos seus princípios, ao seu programa e às decisões tomadas em suas instâncias democráticas de deliberação.
Peço, por este ato, a minha desfiliação do PT.
Saio de cabeça erguida, certo de que fui um bom militante, um bom combatente.
Saio do PT, mesmo sabendo que este abriga muitos sonhadores e construtores de um mundo justo, solidário e próspero.
Saio do PT, mesmo sabendo que este glorioso partido ainda é uma importante trincheira das lutas populares, embora não o julgue mais como a principal trincheira.
Saio do PT por entender que a minha vinculação partidária nega e se opõe à luta pela não interferência político-partidária na administração tributária e pela independência funcional dos agentes do fisco.
Saio do PT por que não mais o reconheço, por que este abdicou de ser “petista”.
Saio do PT, mas não saio da política, pois não saberia viver fora da política. E fora da política não há chance para a transformação social; para a paz; para a promoção da felicidade humana.
Saio do PT sem qualquer ressentimento ou risco de remorso, embora com tristeza.
Ainda que não me sinta obrigado a dar satisfações sobre os meus propósitos futuros, informo-lhe que não me filiarei a outro partido.
Mas de que valem os planos longínquos diante da efemeridade da vida; diante de tantas situações provisórias que duram uma vida inteira e de situações permanentes assustadoramente fugazes?
Que sejamos eternos enquanto duramos.
PT saudações,Charles Alcantara

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