quarta-feira, 7 de abril de 2010

A antiga imprensa, enfim, assume partido

Jorge Furtado:
Blog da Casa de Cinema
Quem estava prestando atenção já percebeu faz tempo: a antiga imprensa brasileira virou um partido político, incorporando as sessões paulistas do PSDB (Serra) e do PMDB (Quércia), e o DEM (ex-PFL, ex-Arena).
A boa novidade é que finalmente eles admitiram ser o que são, através das palavras sinceras de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva do jornal Folha de S. Paulo, em declaração ao jornal O Globo:
“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”
A presidente da Associação Nacional dos Jornais constata, como ela mesma assinala, o óbvio: seus associados “estão fazendo de fato a posição oposicionista (sic) deste país”. Por que agem assim? Porque “a oposição está profundamente fragilizada”.
A presidente da associação/partido não esclarece porque a oposição “deste país” estaria “profundamente fragilizada”, apesar de ter, como ela mesma reconhece, o irrestrito apoio dos seus associados (os jornais).
A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. Também não questiona o fato de serem a oposição ao governo “deste país” mas não aos governos do seu estado (São Paulo).
Propriedades privadas, gozando de muitas isenções de impostos para que possam melhor prestar um serviço público fundamental, o de informar a sociedade com a liberdade e o equilíbrio que o bom jornalismo exige, os jornais proclamam-se um partido, isto é, uma “organização social que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos e sociais comuns e que se propõe alcançar o poder”.
O partido da imprensa se propõe a alcançar o poder com o seu candidato, José Serra. Trata-se, na verdade, de uma retomada: Serra, FHC e seu partido, a imprensa, estiveram no poder por oito anos. Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular. No governo do partido da imprensa, a criminosa desigualdade social brasileira permaneceu inalterada e os índices de criminalidade (homicídios) tiveram forte crescimento,
O partido da imprensa assumiu a “posição oposicionista” a um governo que hoje conta com enorme aprovação popular. A comparação de desempenho entre os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula, Dilma) e do partido da imprensa (FHC, Serra), é extraordinariamente favorável ao primeiro: não há um único índice social ou econômico em que o governo Lula (Dilma) não seja muito superior ao governo FHC (Serra), a lista desta comparação chega a ser enfadonha
Serra é, portanto, o candidato do partido da imprensa, que reúne os interesses da direita brasileira e faz oposição ao governo Lula. Dilma é a candidata da situação, da esquerda, representando vários partidos, defendendo a continuidade do governo Lula.
Agora que tudo ficou bem claro, você pode continuar (ou não) lendo seu jornal, sabendo que ele trabalha explicitamente a favor de uma candidatura e de um partido que, como todo partido, almeja o poder.

Um comentário:

Eldan de Lima Nato disse...

Algumas considerações:
1. Sinceramente, qual é a diferença entre a mídia querer o poder e os partidos o quererem? As disputas, e também os acordos, entre os empresários da mídia e os homens públicos deste país não tiveram início ontem e também não terminará amanhã. Há uma sessão de transe fantasioso no canto da sala de cada brasileiro que "ajuda" o país a não pensar. Essa locomotiva no país do BBB pode até trazer informação mas também faz aqueles que "só" a utilizam, percorrerem apenas o caminho traçado por ela. Essa locomotiva também faz poderosos, mantendo grande parte do povo brasileiro como zumbis políticos, mortos-vivos, sem opinião, sem pensamento crítico, o que favorece o contínuo surgimento de surrupiadores egoístas do erário, pois do povo brotam as lideranças. Povo corruptor e corruptivo: lideranças corruptas.

2. As diferenças entre o PSDB e o PT não passam do âmbito filosófico. Aliás muito da cartilha de um está na do outro, com algumas tênues diferenças. Quem aposta que o PSDB vai mudar os rumos da economia e jogar o Brasil no retrocesso? Se Lula não mudou quase nada na estratégia de FHC, porque Serra o faria?
Estamos vivenciando no Brasil (pelo menos evidenciado pela turma do PT) uma disputa egocêntrica de parte a parte, entre o orgulho de Lula e o de FHC - mais do que a comparação entre os governos destes - símbolos de dois partidos que poderiam, juntos, fazer muito mais pelo Brasil do que com as alianças que cada um adotou.

3.Recapitulando: "esse tal partido da imprensa e o FHC] Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular". Certo? Vejamos o que Lula vai nos deixar: tirando a alta popularidade, e a contida inflação em troca dos altos juros, sobrou o que? Talvez um PAC mal acabado - ou mal começado - e um PAC2 no papel.
"Ah, mas avançou muito na justiça social, na distribuição de renda!". Que milagre foi feito por Lula, que qualquer outro presidente que recebesse a plataforma que ele recebeu não o fizesse? Fez foi pouco!

4. Pra mim, a discussão deve ser entre Serra e Dilma (e incluir os outros candidatos também), Lula e FHC vão ficar no passado. Precisamos olhar para o futuro. Acredito que assim como o país avançou com Lula (embora a grande parte do que se anuncia seja firula e blá, blá, blá), ele continuará avançando com o próximo presidente, desde que se respeitem aquilo que tem dado certo na nossa economia. Agora, algo que impede o Brasil de crescer muito mais, conforme o potencial que tem, é uma praga chamada CORRUPÇÃO, que corrói todo o sistema político e faz de um povo potencialmente dinâmico e rico, ainda um povo pobre, sem acesso aos mais básicos serviços públicos.