A regra é clara: multar, sim; orientar, não
O Globo
Orgulhava-me daqueles destemidos juízes do movimento. Eram heróis da cidade, como os bombeiros, os garis, os salva-vidas. E achava curioso o fato de tanto os guardas de cidades do interior quanto os de metrópoles como o Rio agirem de forma parecida: aquela coreografia era código para decifrar qualquer confusão, em Muri ou aqui.
A última lembrança que guardo deste sentimento de admiração deve datar do início da adolescência. Eu me perguntava que carreira seguiria se tivesse que me integrar à polícia. Cheguei à conclusão de que a única tolerável — e, mais que isso, desejável — era a de guarda de trânsito.
Um dia, eles desapareceram. Não sei precisar que maldito dia foi esse, se foi um dia que durou semanas, meses ou anos, mas o fato é que num certo dia a coisa se evidenciou: os guardas de trânsito haviam sido exterminados.
Em seu lugar, homens com bloquinhos e canetas tomavam o poder (seriam os mesmos, exilados?). Esses guardas, sem arte, sem estilo, porém necessários, já existiam, mas eram apenas um contingente.
Quando os guardas de trânsito desapareceram, este contingente cresceu a olhos vistos, tornou-se uma multidão arrecadadora de alta eficiência, cujos olhos gulosos se malocavam atrás de árvores, muros, pontes, valas. Deste dia em diante, percebi que a malha carioca foi se transformando no paraíso fiscal dos fechadores de cruzamentos, dos atropeladores em potencial, dos egoístas ideológicos, dos furadores compulsivos de sinal, dos blindados paranóicos. E, quando porventura aparecia um guarda, agia como um espectro, translúcido, alheio aos fatos, isso quando não estava só de passagem, a caminho da casa de sucos mais próxima ou de um bom esconderijo para espiar os faltosos. Mais aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário