sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mudança sem Transformação

“O Brasil não tem povo; tem público!”

(Lima Barreto)

Sempre encontrei na Literatura, na Música e no Cinema acalento para minhas angústias e suporte psicológico para a certeza de minha morte. No Cinema, a linguagem que me faz me relacionar com a fantasia, com o sonho. Na Literatura, alicerce para a esperança e o olhar para o transcendente, para o universal. Na Música, o próprio alimento para minha alma sedenta de desejos, de paixões, de poesia.

Também nessas linguagens encontro bases filosóficas e argumentos para grande parte de minhas opiniões e ações políticas. Como também os fundamentos para minhas análises sobre nossa sociedade, nossos valores e nosso mundo.

E como, por opção, adotei a militância política para meio de tentar intervir sobre a sociedade em que vivo, sempre tendo por referência, Santo Alberto de Magno, que perguntava: “Quem pode se dizer humano e não querer tornar melhor o mundo onde vive?”, também tenho na música, literatura e cinema referências permanentes para meus malfadados textos.

Justamente por isso, recorro a elas para me manifestar sobre a atual situação da administração municipal de Parauapebas, o tal “governo cidadão”, mesmo sem entender direito o conceito que esse governo tem de cidadão e de cidadania. Aliás, não saberia nem mesmo qual seria seu conceito de governo.

Agora, por exemplo, nesta tão desesperançada conjuntura, quando o tal “governo cidadão” se propõe a “mudanças de cadeira”, expressão metafórica para a troca de secretários, no caso, da SEMOB e do Gabinete do Prefeito: o ex-titular da SEMOB, João Fontana, agora dá ordens no Gabinete; e o ex-titular do Gabinete, foi instalado, ao que parece com “malas” e “cuias” na SEMOB.

Já quando foi noticiada a dita alteração, de imediato me veio à memória a espetacular obra de Peter Eisenberg, “Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco, 1840-1910”, através da qual o emérito historiador analisa a transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Nordeste açucareiro e chega à conclusão que “tudo se transformara para que nada mudasse”.

Foi mais ou menos isso que tentou o tal “governo cidadão”: a mudança sem transformação. Tudo muda, nada se transforma! Pois, o que precisava ser mudado, isto é, o modus operandi, continua o mesmo: o descaso, a desfaçatez, a incompetência, que, somados, ao autoritarismo, às decisões de gabinetes e conciliábulos, e há quem fale em “desvios de condutas”, conduziram a administração municipal a total e completa paralisação. E a cidade, ao caos!

Um bom exemplo, pouco reparado pela “imprensa” de Parauapebas, foi o “bota abaixo” da escola municipal do Cedere I, na semana passada, confirmação cabal de que nada se modificou ou venha a se modificar na gestão municipal: sem que ninguém soubesse, ou tenha sido alertado, nem funcionários, nem professores, nem pais, nem alunos, nem sequer mesmo o secretário de Educação, a escola foi derrubada: centenas de alunos sem aulas; promessa de uma nova, com “14 confortáveis salas em 60 dias!” E “palmas de ouro” para eles!

Quase um milagre! Quiçá, desta feita, não ocorra semelhantemente ao “novo hospital municipal” que, se um dia vier a ser concluído, esperança que, creio eu, a população de Parauapebas já não alimenta, estará obsoleto, já “nascerá antigo e ultrapassado”. Ou como a Ponte da Avenida Liberdade, saída da cidade, que, passados mais de 500 dias de sua ruína, ainda está lá, à mostra do modus operandi do “governo cidadão”.

O mais impressionante é que este, no caso, o modus operandi parece ser contagioso. A letargia da administração municipal se espalha como uma epidemia sobre as demais instâncias do poder público em Parauapebas: ninguém faz nada: nem a Câmara Municipal (talvez esteja mais para camarilha), nem o Ministério Público, nem a OAB, nem as igrejas, nem os sindicatos, nem as entidades empresariais, nem os movimentos sociais... nem... nem... nem... Ninguém!

Talvez seja a hora de recorremos ao cantor popular, como dizia eu no início deste artigo, nem que seja para aplacar nossa sede de justiça, e chamar o ladrão, como bem dizia Chico Buarque de Holanda: “Chamem ladrão! Chamem ladrão! Chamem ladrão!”

Leônidas Mendes

Professor e Historiador

Um comentário:

Marcos M R Assis disse...

Leônidas, seu texto é muito belo, poéticO, porém, triste!
Triste porque cidadania é uma palavra muito bonita para ser usada por governos mesquinhos que no alto de seu topete e da sua decadência, se esconde cada vez mais do povo e do Partido ao qual quase todos (1º escalão) pertencem.
Como se intitular GOVERNO CIDADÃO, se não tem água, luz, calçadas dignas, esgoto, TANSPARÊNCIA, e etc.
No caso da Câmara, o bla bla blá é só bla bla bla, e ponto final.
O jeito é fazer como Chico Buarque, Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão!