sexta-feira, 30 de julho de 2010

Artigo do Léo

Nas Entrelinhas do Ato

 

Há três tipos de governo:

o que faz acontecer; o que espera acontecer;

e o que não sabe o que está acontecendo!”

(George Santayna)

Sempre ouvi dizer que “um ato vale mais que mil palavras”. Apesar disso, sempre acreditei que palavras e atos são indissociáveis: se o são em nosso dia-a-dia, o são ainda mais na política; e mais ainda numa campanha eleitoral.

E, embora esteja iniciando este artigo com frases de efeito sobre atos e governos, meu intuito é, digamos, ir além. Neste caso, ir além significa tentar, dentro das limitações que meu parco intelecto, meus poucos anos de residência e minha limitada capacidade de análise e compreensão da política local me permitem, analisar o “ato político-eleitoral”, se assim podemos considerar, promovido, ao que parece pela administração municipal, para lançamento oficial de suas candidaturas a deputância (federal e estadual), na quinta feira passada (22 de junho), em Parauapebas.

Na verdade, penso que o tal ato, do enredo à encenação, esteve condizente com a forma que a atual administração de Parauapebas vem sendo conduzida, segundo dizem, inclusive, devido à religiosa ausência permanente do prefeito da cidade, por uma trindade de sem votos, no caso, os senhores Hernandes Margalho (SEFAZ), João Fontana (Gabinete) e Luís Vieira (SEMAD), que, aliás, não compareceram ao ágape. Talvez por isso, tamanha infelicidade no “ato” e no “fato”.

Devo confessar aos leitores que também não compareci. Apenas, por força mais do oficio de articulista político do que pela vontade, busquei informações que, ajustadas, pudessem me permitir uma mentalização do dito evento. E chego à conclusão que ora pontuo: toda a concepção, como já o disse, do enredo à encenação, foi de tamanha infelicidade que chego a pensar se sua premeditação foi intencional ou apenas refletiu a ruidosa insensibilidade dos nossos “informais” administradores.

Comecemos pelo enredo. Em primeiro lugar, o patrocinador e, segundo os presentes, mestre de cerimônia, o prefeito Darci Lermen (PT) que, entre longas ausências e curtas presenças em nosso município, dignou-se a apresentar aos seletos convidados, seus candidatos: o velho amigo Milton Zimmer (PT) para deputância estadual; e o novo amigo neopetista Cláudio Puty (PT) para deputância federal. Neste ponto, temos o que comemorar: nosso alcaide esteve na cidade. Oxalá, venha mais vezes, mesmo que seja apenas para pedir votos!

Em segundo lugar, os convidados, se assim pudermos nos referir, ao conjunto de secretários, adjuntos e comissionados de todas as ordens, funções e faixas salariais que por lá deram o ar de sua graça. Alguns, certamente para regatear-se no “boca livre” oferecido. Outros, temerosos de que a ausência pudesse refletir na renda familiar ao final do mês. Outros tantos, por pura falta do que fazer mesmo ou para ter assunto na monotonia do final de semana. Sabe-se lá!

Em terceiro lugar, fechando o enredo, o local: a Chácara Nelore Quality, de propriedade do médico Luis Leite. Talvez, seja isso que chamemos de “fechar com chave de ouro”, pois, acharam de escolher um local longe da cidade e de seu povo, à noite, para evitar visibilidade, o que, não podemos negar, é um contra-senso. E não só: embora seja de se esperar que candidaturas petistas se identifiquem com a luta contra o latifúndio, foram fazer o tal lançamento num símbolo do latifúndio, até na marca, que, por sinal, soa bem: Nelore Quality. Novos tempos, novas idéias, novos métodos!

Agora, a encenação. Podemos sintetizar num único ato: os discursos dos candidatos. Talvez por obtusa percepção, falta desta, devaneio ou dissimulação, os agraciados não deram indicativos de que notaram quem representavam, onde estavam e para quem falavam, pois, se esmeraram em se apresentarem como defensores dos movimentos sociais (inclusive, dos anti-latifúndio e pela reforma agrária). Certamente, esperaram (e obtiveram) aplausos, afinal, o público presente estava lá para isso!

O tal Cláudio Puty chegou à desfaçatez de, como de praxe nos candidatos visitantes à região, anunciar-se “defensor radical do estado de Carajás”, aliás, segundo deixou a entender, “desde criancinha”. Só faltou dizer que a idéia foi dele. Fico, cá com meus botões, a imaginar se algum eleitor paraense de Belém o questionasse sobre o tema, se ele manteria tão “extremada” e “intransigente” posição. Era algo pelo qual eu pagaria pra ver: o novo ícone da revolucionária DS paraense defendendo, em Belém, o Estado de Carajás, a divisão, quase extinção do Estado do Pará. E olha que ele tentou tal intento ao tempo que esteve à frente da Casa Civil do Estado. Faltou pouco. Agora, ele consegue!

Entretanto, não podemos negar, alguns se apressaram em aplaudir mais para apressar o andamento da peça, antes que a carne do churrasco queimasse ou que alguém se apercebesse do vazio político-ideológico em que caiu grande parte do PT de Parauapebas e do Pará, reflexo indefectível do governo por atos, ações e/ou omissões. Talvez pelos três. A carne assada, espero eu, bem cuidada, amenizou e amainou a reflexão política sobre a cena, diria, de teatro, se com isso, não acreditasse está diminuindo tão nobre arte!

Agora, para fechar este artigo com mais uma frase de efeito, talvez tão eloqüente como a que o abri, uma pichação que vi nas paredes da cidade de Olinda, em outros carnavais, anônima: “Neste mundo, o que se diz e se pensa interessam muito; mas, o que se faz interessa muito mais!”

Um comentário:

Marcos Frazão disse...

Como sempre meu nobre Léo atento e infalível na defesa da honra socialista-Ptista, é uma pena que teremos de juntar as cinzas do PT quanto essa queimada que o Darci promove em nossa cidade acabar. Que nossas forças continue correndo nas veias, pois sangue é vermelho e também serve para resfriar.