sábado, 17 de setembro de 2011

Porque a divisão do Estado hoje é vista como um projeto das elites?

* Marcos André Souza Frazão

Vivemos em uma terra de migrantes, até mesmo quem aqui vive a mais de 50 anos ainda não aprendeu a viver como um amazônida e os que poderiam nos ensinar (os índios e a miscigenação destes com negros e bancos) hoje estão cooptados pelo o grande capital, principalmente em nossa região sul e sudeste paraense, onde há grandes riquezas minerais sendo exploradas.

Nosso povo hoje são os que sempre foram: prostitutas e mão-de-obra escrava; como foram os castanheiros e hoje o são os carvoeiros, como foram às mulheres que fundaram as primeiras cidades desta região e hoje são as filhas e filhos das mazelas sociais. Porque esta realidade não muda? Porque os trabalhadores estão sempre subjugados a trabalhos que se assemelham a escravidão praticada no Brasil do século XVI, XVII e XVIII?

Vivemos períodos difíceis na década de 70, com o advento dos grandes projetos na Amazônia, coordenado sobre a tutela de um governo militar e ditador, que além de manter laços com o grande capital norte americano ainda assassinava pessoas que os contrariavam. Nossas vidas parecem não mudar, isto continuar a acontecer. Hoje temos o grande capital (agronegócio, madeireiros, indústrias primarias, grande comércio), temos militantes desapropriados da terra exterminados por contrariar aqueles interesses e o nosso governo continuar apoiando estas práticas como o fez nas décadas de 60 e 70, só que agora não assumem a autoria em pública.

Que governo de verdade queremos? Que Estado queremos? Porque que o governo que temos não é o que queremos? Qual o Estado que temos? E o principal, porque que estas perguntas nunca são respondidas? A resposta é simples, elas nunca foram feitas e por quê? Por que nosso povo (eu, você, todos nós) nunca tivemos capacidade de refletirmos sobre isto, pois a educação que temos é justamente para garantir essa ignorância. É por isso que quando conseguimos nos livrar um pouco dessa ignorância culpamos nossos pais por continuar pensando de modo alienado. Culpamos nossas mães que nada fizeram para salvar nossos irmãos que morreram ou vivem escravizados.

Um grande problema que enfrentamos hoje é a ausência do Estado, principalmente na Educação, pois somente uma educação construída dentro de um ambiente e pelos os seus sujeitos pode criar as perguntas certas que nos farão sair desta situação atual de alienação para um estado de liberdade, em que a qualidade vida é o principal interesse e em conformidade com ambiente amazônico (pessoas, recursos naturais, fauna e flora), pois aqui é o lugar que escolhemos para viver.

Desse modo não consigo ver a divisão de um estado que é o segundo maior do Brasil em extensão territorial, que lidera os baixos níveis educacionais e os altos níveis de violência como algo negativo para federação e nem para o estado do Pará, tão pouco para as pessoas que vivem no interior desse estado. Vale lembrar que todas as lutas que até hoje feitas pelas pessoas que conseguem ver o Pará com um olhar crítico, sempre precisaram ir à capital, ou para se impor junto aos poderes executivo, legislativo, judiciário, ou mesmo para obter um mínimo de educação, pois nossos governantes não têm interesses em manter uma classe de intelectuais nesses locais, por isso não temos universidades e o ensino médio não funciona. O que temos são escolões que servem de prestações de conta do gasto das verbas públicas. Do contrário na metrópole e até mesmo no noroeste paraense e partes insulares do estado se observa uma grande massa de intelectuais formados com os recursos advindo da região sul e sudeste do Pará e que se negam vim desenvolvê-lo. Enquanto isto nosso povo são escravizados para o agronegócio, grandes projetos e/ou mortos pela violência que nasce da ignorância, pobreza e forme, restando apenas na maioria das vezes apenas o próprio corpo para oferecer em troca da sobrevivência vendendo-o aos poucos de acordo com os interesses de quem tem os meios de produção.

Então, porque a divisão do estado é vista como um projeto da elite? Simplesmente porque nós somos incapazes de dá o nosso grito de libertação e tenho certeza que esse grito ficará engasgado por mais tempo se continuarmos presos a essa velha e falha estrutura governamental das elites de Belém. Não confio e nem confiarei em pessoa e/ou grupos vindo daquelas hostis belenenses com dizeres de não a divisão, mesmo sendo de grupos partidários que se dizem de extrema esquerda, pois o que realmente está em jogo não são ideologias partidárias e sim a sobrevivência de meu povo, que é índio, que é negro, que é branco, que foi castanheiro e hoje carvoeiro; que foi posseiro e hoje sem terra; que foi e hoje ainda é prostitutos de uma vida miserável.

Quero sim traçar uma luta contra essa estrutura capitalista que está dominando os povos em todo o mundo em favor de lucro fácil e sombrio e que hoje (por hora) vejo que veste roupas de uma divisão do estado do Pará. Mas quero que esta luta chegue mais próximo de mim, pois só assim poderei me mostrar com a cara pintada, arco e flecha nas mãos, com os grilhões rompidos, com as pás, enxadas, facões, pedras e paus em punho, de frente e sem medo. Prefiro assim, a continuar enviando cartas, e-mails, gritos para o distante que não me houve ou fingem que não, ou esperando quem foi me representar voltar (e nunca volta), pois só assim eles não terão como fingir e fugir.

* Marcos André Souza Frazão

Professor Pedagogia formado UFPA

Especialista em Saúde e Ciências Sócio-Ambientais pela UFPA.

4 comentários:

Aline Alves disse...

Marcos Frazão. Uma mente brilhante. Da forma que está seguindo esse debate sobre o reordenamento do estado do Pará, só dá pra pensar que isso é projeto da e para a elite dessa região.
Acho que deve ser o professor Marcos Frazão, se for, desde já agradeço por ter sido meu progessor, pois este homem ensinou mais que a grade do curso, ele formou mentes, ele trazia para a sala de aula debates, e tirava a venda dos olhos daqueles que estavam entregues a ser massas de manipulação.


Esse debate dever vir para a base, sair de salas frias, e deve ser democrático.
Quando ele (Marcos Frazão) fala sobre a situação da educação, fala exatamente toda a verdade, a prova disso é a humilhação que os estudantes de Parauapebas passam, tem escolas que o sol fica dentro da sala de aula, enfrentam calor, motivo este que são liberados mais cedo, e muitos enfrentam professores que mal sabem passar o conteúdo, muitas vezes ficam sem aula por falta de professor, e ainda tem mais motivos soltos no ar.
Atualmente os estudantes estão na luta para tentar trazer de volta o campus da UNIFESSPA (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), enquanto isso já é nosso direito e necessidade. Uma vergonha para todos nós. O sistema capitalista, visando lucro fácil, não quer mentes pensantes, quer operários, quer seres alienados, para que sejam facilmente manipulados. Isso nos faz regredir, voltamos ao passado, vivendo como na época da ditadura militar, época que deixou resíduos em consequência de 21 anos de repressão, censura, tortuta e tantas outras coisas que ainda nos fazem calar diante de tanta corrupção e injustiça.

Estamos longe de sermos livres.
Os estudantes estão coletando assinaturas num abaixo assinado pró- UNIFESSPA, e muitas pessoas teem medo de assinar, por medo do governo, medo do patrão, medo do gasparzinho, medo de tudo.
Nós ainda estamos com medo de cobrar o que é nosso, e nossos estudantes e jovens estão sendo ensinados para isso, não cobrar, pois não está sendo formado mentes pensantes e sim mão-de-obra, e barata pra completar a situação.
O povo de Parauapebas, precisa soltar-se das correntes, correntes que nós mesmos criamos com nossa mente fraca.

O que nos prende ao comodismo e ao conformismo, é a falta de uma educação.

Anônimo disse...

o que podemos nos perguntar é se realmente queremos nos libertar dos grilhões das injustiças, das verdades mascaradas e principalmente da ignorância que nos cega diante das necessidades da sociedade. acredito que nós enquanto educadores e cidadões de um estado escravista, temos como dever lutar contra essas correntes que estão presas aos nossos pulsos e nos conscientizarmos que nós somos responsáveis pelo nosso futuro ou a ausência dele. parabéns Marcos e muito obrigada por ter tido a coragem de iniciar a libertação das mentes escravas e conformadas com as migalhas que nos é oferecida pelos governos e suas elites que vivem um mundo a parte do nosso.
Isla cristina de sousa coelho.
licenciada em ciências agràrias e educadora.

REFLETINDO O ENSINO disse...

Prof. Marcos Frazão a reflexão não pode deixar de mencionar alguns argumentos dos que querem dividir o Estado. Geralmente os divisionistas têm como principal fonte de discurso o poder regional, quando não preconceituoso e discriminatório, especulatório. A classe política e o latifúndio são os maiores incentivadores da divisão pelas razões que você expõe. Vejamos alguns:
a)“Ninguém perderá, todos ganharão porque o PIB do Estado ficará mais com a região metropolitana”;
b)“Quem não quer a divisão é a mesma elite que fica só ‘mamando’ os recursos que não chegam às regiões mais distantes do centro das decisões Belém”;
c)“A elite política e empresarial que decide sobre o destino de todo o Estado é a mesma elite que vem há muito tempo mantendo os mesmos cargos, funções e enriquecimento em detrimento da pobreza do resto do Estado”;
d)“Há incompetência dos governantes paraenses, pois, os mesmos não têm condições nem de melhorar a condição de vida dos que moram em Belém, é só olhar as baixadas, a periferia da cidade para ver o estado de miséria em que vivem”;
e)“O Estado do Pará tem sido governado por uma elite que se reveza no poder, incluídos os da região sul-sudeste (do Pará) que possuem os currais eleitorais, como forma de se manter no poder”;
f)“O Estado do Pará possui uma imensa área territorial o que dificulta a gestão pública;
g)“Há uma corrupção generalizada das elites políticas que comandam as ações do Estado”;
Não há como negar que existem argumentos considerados válidos.
Primeiro: há realmente uma ausência do Governo do Estado na Região Sul-Sudeste do Pará, a mim parece ser este o argumento mais substancial. Os governos não dão atenção à região, inclusive o do PT. Há um equívoco em relação ao modelo estrutural do governo, não se discute políticas públicas para a região, cujos desmandos, corrupção e violência campeiam. A violência, a meu ver, o mais grave problema exige ações imediatas dos governos Estadual e Federal.
Segundo: quanto aos currais eleitorais, elites do poder e mau uso do dinheiro público, não há dúvida; os grupos que se revezam no poder político se utilizam das mesmas estratégias: distribuição dos cargos públicos, favorecimento de parentes e parcerias políticas que priorizam a acumulação de riquezas individuais ou de grupos restritos em detrimento dos interesses coletivos.
Terceiro: quanto a incompetência administrativa e corrupção, que não é exclusividade da região metropolitana os municípios do Sul-Sudeste do Pará estão entre os mais corruptos, as estratégias de enriquecimento ilícito é uma constante, e, o que é pior, sem nenhuma conseqüência; há cumplicidade de todos - classe política, inclusive - e em todos os níveis da justiça.
As reflexões e contra-argumentações não pretendem menosprezar os anseios das populações locais por melhores serviços públicos e qualidade de vida. Nós que moramos nestas regiões nos sentimos negligenciados pelo governo estadual. Mas fica claro que a questão não é de divisão, é de modelo de gestão e de vontade política para que o governo fique mais próximo da sua população. Se líderes regionais e centrais entendessem a região como prioridade, ganhariam todos, visto que o problema é de investimento em infra-estrutura é, também, de gestão pública dos recursos e não de divisão. Aprimore-se a gestão pública e o modelo de estado.
Concordo que a educação está (de)formando o caráter dos cidadãos.
Muitos que dizem ser a divisão do Estado solução para os graves problemas da região, são os primeiros a se utilizar das benesses em seus próprios interesses, através de mecanismos que os fazem enriquecer ilicitamente, tais como: propinas por favores a grandes empresas/empresários, propinas para se calarem diante dos escândalos financeiros das gestões municipais, aquisição de grandes áreas de terras para especulação, aquisição de fazendas e imóveis, desvios de recursos públicos sob todas as formas e outras estratégias.
Eis minha contribuição para o debate. Prof. Sena.

REFLETINDO O ENSINO disse...

Prof. Marcos Frazão a reflexão não pode deixar de mencionar alguns argumentos dos que querem dividir o Estado. Geralmente os divisionistas têm como principal fonte de discurso o poder regional, quando não preconceituoso e discriminatório, especulatório. A classe política e o latifúndio são os maiores incentivadores da divisão pelas razões que você expõe. Vejamos alguns:
a)“Ninguém perderá, todos ganharão porque o PIB do Estado ficará mais com a região metropolitana”;
b)“Quem não quer a divisão é a mesma elite que fica só ‘mamando’ os recursos que não chegam às regiões mais distantes do centro das decisões Belém”;
c)“A elite política e empresarial que decide sobre o destino de todo o Estado é a mesma elite que vem há muito tempo mantendo os mesmos cargos, funções e enriquecimento em detrimento da pobreza do resto do Estado”;
d)“Há incompetência dos governantes paraenses, pois, os mesmos não têm condições nem de melhorar a condição de vida dos que moram em Belém, é só olhar as baixadas, a periferia da cidade para ver o estado de miséria em que vivem”;
e)“O Estado do Pará tem sido governado por uma elite que se reveza no poder, incluídos os da região sul-sudeste (do Pará) que possuem os currais eleitorais, como forma de se manter no poder”;
f)“O Estado do Pará possui uma imensa área territorial o que dificulta a gestão pública;
g)“Há uma corrupção generalizada das elites políticas que comandam as ações do Estado”;
Não há como negar que existem argumentos considerados válidos.
Primeiro: há realmente uma ausência do Governo do Estado na Região Sul-Sudeste do Pará, a mim parece ser este o argumento mais substancial. Os governos não dão atenção à região, inclusive o do PT. Há um equívoco em relação ao modelo estrutural do governo, não se discute políticas públicas para a região, cujos desmandos, corrupção e violência campeiam. A violência, a meu ver, o mais grave problema exige ações imediatas dos governos Estadual e Federal.
Segundo: quanto aos currais eleitorais, elites do poder e mau uso do dinheiro público, não há dúvida; os grupos que se revezam no poder político se utilizam das mesmas estratégias: distribuição dos cargos públicos, favorecimento de parentes e parcerias políticas que priorizam a acumulação de riquezas individuais ou de grupos restritos em detrimento dos interesses coletivos.
Terceiro: quanto a incompetência administrativa e corrupção, que não é exclusividade da região metropolitana os municípios do Sul-Sudeste do Pará estão entre os mais corruptos, as estratégias de enriquecimento ilícito é uma constante, e, o que é pior, sem nenhuma conseqüência; há cumplicidade de todos - classe política, inclusive - e em todos os níveis da justiça.
As reflexões e contra-argumentações não pretendem menosprezar os anseios das populações locais por melhores serviços públicos e qualidade de vida. Nós que moramos nestas regiões nos sentimos negligenciados pelo governo estadual. Mas fica claro que a questão não é de divisão, é de modelo de gestão e de vontade política para que o governo fique mais próximo da sua população. Se líderes regionais e centrais entendessem a região como prioridade, ganhariam todos, visto que o problema é de investimento em infra-estrutura é, também, de gestão pública dos recursos e não de divisão. Aprimore-se a gestão pública e o modelo de estado.
Concordo que a educação está (de)formando o caráter dos cidadãos.
Muitos que dizem ser a divisão do Estado solução para os graves problemas da região, são os primeiros a se utilizar das benesses em seus próprios interesses, através de mecanismos que os fazem enriquecer ilicitamente, tais como: propinas por favores a grandes empresas/empresários, propinas para se calarem diante dos escândalos financeiros das gestões municipais, aquisição de grandes áreas de terras para especulação, aquisição de fazendas e imóveis, desvios de recursos públicos sob todas as formas e outras estratégias.
Eis minha contribuição para o debate.