Por Mauro Malin Observatório da Imprensa em 12/02/2012 na edição 680
A mudança de posição do PT em face de greves de policiais e categorias assemelhadas seria obviamente um prato cheio para a crítica, que não tardou. Não é novidade que, no Brasil (e alhures), a chegada ao poder muda o discurso político. E nem é preciso ser uma metamorfose ambulante.
No Império se dizia: “Nada mais parecido com um saquarema [conservador] do que um luzia [liberal] no poder”.
Curioso é encontrar, a respeito de um mesmo fenômeno, duas posições contrastantes na mesma edição de um periódico, sob assinaturas diferentes. Trata-se da Veja datada de 15/2.
Na página 38, sob a rubrica "Blogosfera", chamada para a coluna de Augusto Nunes, lê-se:
“Milhões de brasileiros desconfiam que o ex-deputado Jacques Wagner e o governador Jacques Wagner não são a mesma pessoa. Em 1992, o então deputado apoiou greve da PM baiana idêntica a esta que o agora governador repudia.”
Na página 68, terceira da reportagem “Bombeiros incendiários”, assinada por Marcelo Sperandio e Kalled Coura:
“Em 2006, o sindicalista incendiário [Marco Prisco, líder principal do movimento na Bahia] fez campanha para Jacques Wagner, que tentava se eleger governador. Um holerite da PM, obtido por Prisco, se transformou em arma política da campanha do petista: o candidato mostrava a imagem do documento na TV, criticava os baixos soldos pagos aos PMs e prometia aumentá-los quando chegasse ao poder. Wagner foi eleito com o apoio maciço dos policiais. Agora, na greve liderada por seu ex-cabo eleitoral, ao fazer o contrário do que apregoava quando era oposição, o governador foi acusado de hipocrisia. Numa leitura mais benevolente, poderia se chamar a isso também de maturidade. Entre as vantagens da alternância no poder está a de conferir moderação e responsabilidade a ex-opositores ruidosos eleitos governadores.”
Então, como ficamos: dupla personalidade ou amadurecimento?
A pergunta é meramente retórica. Sabemos que o discurso da lei e da ordem geralmente une quem ocupa diferentes instâncias de poder. No caso, poder executivo e poder midiático.
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